Com dois vôos de mais de 9 horas em Quixadá, realizei por mais de uma vez meu sonho de voar 300 km. Os vôos, de 358 km e 335 km, podem ser visualizados aqui:
Deixarei os relatos para algum momento tedioso de inverno.
Quixadá realmente é o céu e o inferno. No primeiro dia, em que o Rafa bateu o recorde sul-americano, com 397km, pousei às 8h00. Voltei correndo de moto-taxi para a rampa. Na segunda descolagem, puxei a vela no momento equivocado e voei de ré para o rotor - uma experiência bastante desagradável.
No dia seguinte, a condição estava ainda melhor, com mais nuvens e organizada. Fiz 100km em 2 horas, caindo às 11h00, num venturi ao norte de Tabosa. No momento em que caí, pensava se teria de passar pela mesma, horrenda desilusão do ano passado. Não voltaríamos a ter um dia tão especial como aquele...
Continuei a lutar, mas a condição insistia em azular por volta das 11h00, quando as térmicas passavam a ser falhadas e com cisalhamento. E aí surgia o dilema: seguir lentamente pelo azul ou descansar para o próximo dia?
Somente no domingo (21/10), cravaria os 300. Nesse dia, foi o Rafa quem caiu cedo. Juntos teríamos feito muito mais do que os 335 km que voei (em zig-zag). Cheguei em Piripiri por volta das 16h15, com uma hora e quinze de voo pela frente. Mas um congestus enorme desaguava sobre a planície no Piauí, fechando a rota para Barras, que estava a um planeio. Não importa, já estava satisfeito.
A verdade é que nenhum dos dias em que voamos foi completo (vento forte e alinhado ao longo da rota, cumulus abundantes e ausência de cirrus). No dia seguinte ao meu vôo, o Cecéu bateu a marca do Rafa, voando 414 km, o primeiro voo de mais de 400 em território brasileiro. Pegou cirrus na perna final, vendo as chances de derrubar o recorde mundial irem por água abaixo. Uma pena... Mas é muito provável que o recorde caia em território brasileiro nos próximos dias.
Meu segundo voo longo, de 358 km, foi uma lição de que só se pode dar o dia por terminado ao colocar os pés no chão. O voo começou com condições clássicas, mas azulou no km 70. Daí em diante fui me arrastando pelo azul até pouco antes de Crateús (rota para leste, um pouco ao sul da tradicional). A condição voltou a arredondar somente no km 160, quando já havia salvo o dia a menos de 50m do chão. Nesse dia, o cirrus voltou a nos atrapalhar. Pousei às 17h00, ou seja, não fiz o planeio final, porque a última térmica do dia já era muito fraca para me tirar do chão. O Rafa, que voava uns 15km à minha frente, dispensou o lastro, pousando às 17h40, com 398km.
Nada como a ambição humana... Agora é natural querer os 400. Mas a verdade é que - como disse um escritor mexicano - a Deusa do êxito é uma puta. Sempre haverá pilotos voando mais longe e mais rápido... Quem se apegar demais às cifras, fatalmente terá decepções.
Olhando para trás e fazendo uma retrospectiva dos últimos 6 anos, em que o cross-country tornou secundários todos meus demais interesses, voar mais de 300km terá sido o ponto alto da jornada. E, ainda assim, é uma parte pequena dos muitos momentos espetaculares que esse esporte me proporcionou.
Definitivamente, para mim, o vôo de distância livre põe em cheque qualquer concepção do que seriam, para aqueles que não voam, as férias ideais. Um dia, quando for obrigado a ver pontos turísticos, visitar restaurantes e museus, lembrarei dos gloriosos dias de XC. E, então, olharei com certa incomodidade para o céu e as nuvens, tentando afastar, em vão, a nostalgia dos bons tempos...
Olympio Faissol
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