A expectativa para o evento era já das melhores. Eu estava com um bom equipamento, havia realizado bons vôos de treino e ainda fui agraciado com uma ajuda de incentivo e patrocínio da Prefeitura Municipal de Pacatuba, do Dr. Aluísio Gurgel e do Neto Supiai. Então era só voar e ir o mais longe possível.
1º DIA DE PROVA. A maioria na rampa por volta das 6h30 e eu ligado na turma da Sol, pois pretendia acompanhá-los ainda que fosse apenas no início do vôo. Decolei às 7h00 junto com a galera da frente. A saída neste horário é crítica pois o teto passa pouco dos 700m e não se pode entubar. Tentei permanecer no bolo até onde parecia vantagem e segurar voando até a condição melhorar. Quem não tomava muito cuidado caía antes da Serra do Padre ou não chegava a Custódio. Fui boiando já sem companhia desde Algodões até Madalena, quando a condição deu uma melhorada. No vôo parece que todos são suspeitos e ninguém segue ninguém, a não ser por uma boa termal de motivo. E segui tranqüilo, sem problemas ou colapsos, até ficar muito baixo, logo atrás da cidade de Monsenhor Tabosa. A uns 30m do chão, bem no pé do platô e com vento de proa e fraco, finalmente começou a bombar muito fraco, mas consegui garantir o “lift” da serrona. Novamente segui para a rota. A surpresa foi no quilômetro 200: entrei numa descendente enorme pouco antes da Serra Grande, entre Ararendá e Ipueiras, mas tinha certeza de que me salvaria mais uma vez no “lift” da danada. Cheguei na altura do platô, mas só descia e não havia uma gota de vento. Fui descendo a serra na tentativa de bater em alguma termal perdida e nada. Acabei pousando numa roubada: um único roçado no meio da mata, próximo a um povoado. Andei uns 600m, peguei um mototaxi e fui para Ararendá, a 10km, para esperar o resgate. Total do vôo: 202km.
2º DIA DE PROVA. O teto fechado e ainda mais baixo. O primeiro pelotão saiu e eu decidi esperar um pouco mais para não arriscar tanto. Saí depois das 9h00 e quase pousei na Serra do Padre, quando praticamente decolei de novo, de uns 50m do chão. Pensei que estaria a salvo depois daquilo e não mais pousaria, mas para minha surpresa fui capturado por uma descendente que me obrigou a pousar em Custódio, percorrendo apenas 29km. No fim do dia, com exceção do trio da Sol, quase todos ficaram no caminho para Madalena.
3º DIA DE PROVA. O vento soprava forte e até o “Cecéu” desistiu de decolar. O show ficou por conta do Frank Brown que saiu, tomou um pau próximo à Pedra da Baleia e pousou em Madalena.
4º DIA DE PROVA. As 7h00 a rampa estava lotada e o vento moderado, mas muito frio e o teto fechado, com promessa de abrir ao longo da manhã. Esperei a galera sair e decolei às 8h00. Boiei por quase uma hora e finalmente me desconectei para o “cross”. A condição foi melhorando e passei alto sobre Monsenhor Tabosa (o terror dos voadores). Porém, próximo a Cruzeta (km 150), fui premiado com uma terrível descendente que quase me bota no chão. Fiquei a uns 100m de altura e decidi jogar exatamente no lugar aonde estaria ou a solução ou o problema: no rotor do único morrote à beira da pista de Cruzeta. Achei a danada e fui catapultado para a base da nuvem mais rápido do que desci. Neste momento, pensei: “se quase fiquei aqui, agora vou ter paciência e não quero mais ficar baixo, e já que estou só mesmo, vou dar umas entubadinhas de leve.” Subi até 3.500m durante o percurso até Pedro Segundo. No Piauí a condição é espetacular: teto alto, ar quente, bomba até escurecer e o paraca rende tudo. Enfim, a receita foi revelada para se voar 400 ou 500km e eu estava muito feliz de estar descobrindo isto na prática. Quando chegava em Piripiri, às 17h30, meu vário começou a apitar forte. Enrosquei e me mandei para Barras e, achando que facilitaria o resgate, decidir seguir a rodovia federal que rumava para Capitão de Campos. O problema é que a velocidade para Barras não era a mesma de vôo, o que não me fez render no final, já que poderia facilmente ter chegado aos 350km, e ainda fiquei novamente na roubada. O resgate demorou e quando chegou, lá pelas 23h00, eu havia dormido numa casinha à beira do asfalto, só conseguindo retornar à Quixadá dois dias depois. Fiquei triste pela situação, perderia um dia de prova e não ficaria bem colocado na competição. Mas para minha sorte, o vento resolveu este problema. Veio que veio e ninguém decolou mais. Os que se arriscaram, foram p´ro rotor da rampa e se arrependeram. Então retornei no sábado e fui entregar o GPS para a leitura dos vôos. O último vôo ficou em 324km. O resultado é que foram validadas três provas com um descarte. Eu fiquei com dois vôos bons, um de 324km e outro de 202km, o que me rendeu o terceiro lugar geral na competição. Ficam aqui os meus agradecimentos a todos que me apoiaram para mais esta participação no XCeará. E vou me empenhar fortemente para que o próximo XCeará seja nosso, com todos os méritos.
Valeu, galera!
Flávio Moreira.
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